A realização de testes em massa associada ao uso de ferramentas de localização geográfica é a forma mais eficiente de conter a difusão da pandemia causada pelo coronavírus. Isso ficou evidente em lugares em que a testagem foi amplamente feita, tais como China, Singapura, Coréia do Sul e Alemanha.
No Brasil, a tática adotada pelo ministério da Saúde comandada por Luiz Henrique Mandetta tem sido a de aplicar o teste para a presença do coronavírus naquelas pessoas que já manifestam os sintomas da COVID-19. Algo assemelhado a examinar um paciente que dá entrada em unidade hospitalar após receber vários tiros, apenas para saber quantos tiros foram.
A razão para isso é simplesmente econômica, pois o Brasil não tem capacidade instalada para produzir o número suficiente de testes para testar todos a população e, por isso, precisa importar. Diante dessa situação, o governo Bolsonaro resolveu economizar e reduzir propositalmente a população a ser testada aos que já manifestam os sintomas mais evidentes da COVID-19.
Ao fazer isso, o Ministério da Saúde está aumentando o nível de subnotificação dos casos de COVID-19, aumentando o grau de incerteza sobre quantas pessoas já foram infectadas. Com isso, é bem possível que estejamos adentrando o mesmo terreno em que já se encontram países como Itália, Espanha e EUA, onde a quantidade de mortes está superando a capacidade até dos serviços funerários de levar os corpos ao local de enterro ou incineração.
Um dado que explicita o nível de subnotificação que está ocorrendo é o do profissionais de saúde que já foram retirados de suas atividades apenas em dois hospitais paulistanos, o Albert Einstein e o Sírio-Libanês, que não são exatamente unidades destinadas aos pobres. Um artigo assinado pelo jornalista Pablo Pereira para o “ESTADÃO” mostrou que só nesses dois hospitais, 450 profissionais foram afastados por terem contraído ou estarem sob suspeita de terem sido infectados pelo coronavírus (ver imagem abaixo).
Outro indicador claro é o número de internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) do que a média histórica semanal registrada para este período do ano, apontou estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado na quinta-feira (26). De acordo com a pesquisa da Fiocruz, na semana entre os dias 15 e 21 de março, 2.250 pessoas foram internadas com a síndrome respiratória aguda grave. O detalhe sinistro é que a média semanal em outros anos era de apenas 250 a 300 internações para os meses de fevereiro e março. Ainda que a SRAG possa ser causada por outros vírus, não há como desassociar este aumento explosivo à infecção pelo coronavírus.
O que esses dois fatos juntos indicam é que o Brasil precisa urgentemente disseminar os testes para determinar se as pessoas estão contaminadas ou não com o coronavírus, de modo a não apenas estimar a real extensão das pessoas já infectadas, mas, principalmente, para que as autoridades de saúde em estados e municípios possam orientar as melhores medidas a serem adotadas para se controlar a difusão do coronavírus.
Sem a testagem em massa, o Brasil continuará seu voo cego e o número de mortos pela COVID-19 alcançará o previsto os piores cenários possíveis. A hora é de se colocar a vida na frente do controle fiscal que é tão caro ao governo Bolsonaro. Testagem em massa, já!