No dia de ontem, a diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu de forma unânime o uso da vacina Sputnik V , produzido pelo Instituto Gamaleya, e impediu um esforço importante para aumentar a quantidade de imunizantes disponíveis para os brasileiros. O curioso é que a Sputnik V já está sendo usada de forma ampla em diversos países do mundo, incluindo a Argentina que agora está produzindo internamente a vacina russa. Mas é preciso lembrar que outros países com grande contingente populacional como o Paquistão e o Vietnã também estão fazendo uso da Sputnik V, sem que haja qualquer notícia de efeitos colaterais ou de baixa eficácia contra o Sars-Cov-2.
As razões levantadas pela diretoria da Anvisa são em sua maioria de natureza burocrática, causando uma reação natural dos fabricantes da Sputnik alegue que, na prática, a proibição tem um caráter político, visto que os EUA já se manifestaram claramente contra o uso da Sputnik V pelo Brasil.
Mas deixando de lado as suspeitas em torno das razões pelas quais a Sputnik V está tendo seu uso dificultado, eu me deteria na outra face desta moeda: é que a mesma Anvisa que utiliza argumentos essencialmente burocráticos para impedir que os brasileiros tenham acesso à Sputnik, liberou 1.172 agrotóxicos apenas desde o início do governo Bolsonaro. E não custa nada lembrar que em torno dos 30% dos agrotóxicos liberados pela Anvisa estão banidos na União Europeia por ter sido apontados como causadores de uma ampla gama de impactos à saúde humana (diferentes tipos de câncer, alterações no funcionamento do sistema glandular, alterações cromossômicas, malformação de fetos, enfermidades do sistema nervoso humano, etc).
De quebra, a Anvisa fragilizou o sistema de avaliação da toxicidade humana dos agrotóxicos e aumentou o grau de tolerância para a quantidade de resíduos presentes nos alimentos e na água de consumo. Com isso, a Anvisa contribuiu para que os brasileiros estão mais expostos às consequências devastadoras de substâncias altamente tóxicos e perigosas que ela mesmo liberou.
Com isso, a minha conclusão é que precisamos cobrar da Anvisa que seus técnicos e diretores usem os mesmos critérios aplicados na aprovação de vacinas contra a COVID-19 na hora em que são avaliados os venenos agrícolas que outros países já decidiram banir em nome da segurança e da saúde dos seus habitantes.
Em suma: que as estritas regras para a liberação das vacinas que irão proteger os brasileiros da COVID-19 também sejam aplicados na hora de liberar agrotóxicos altamente tóxicos que em um futuro não muito distante se provarão ser um flagelo inclemente para a saúde dos brasileiros.
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