Demitido pela CNN, Leandro Narloch acabou tendo guarida na Folha de São Paulo para continuar publicando seus textos negacionistas da realidade brasileira
Vi com um misto de enfado e incredulidade o último texto do “jornalista”curitibano Leandro Narloch sobre como a existência de negras ricas (as sinhás) no período da escravidão seria uma espécie de prova de que a escravização de milhões de negros africanos para servirem de nutrição na máquina de formação do capitalismo brasileiro não foi assim tão, digamos, ruim.
Eu observei a aparição de Leandro Narloch há alguns anos como uma daquelas curiosidades que permearam o início da segunda década do atual século, ao lançar o seu “Guias Politicamente Incorretos”, “obra” pela qual ele foi devidamente humilhado em público por um painel que tinha como um dos seus membros, o escritor Fernando Morais em um evento literário realizado em Pernambuco ainda em 2011.
Painel constrangeu, Leandro Narloch, o autor dos “Guias”Beto Figueiroa / Divulgação
Após o seu último texto, Narloch voltou a ser alvo de uma série de textos que o acusam, com devida justeza, de ter feito um aceno à extrema-direita da qual ele parece querer ser uma das mentes produtivas, agora que Olavo de Carvalho está impedido de ser por graves motivos de saúde.
O fato que me parece menos importante é se Narloch é racista ou não. O que me parece fundamental é que um grande veículo da mídia corporativa brasileira, no caso o jornal Folha de São Paulo, ainda dá espaço para o tipo de lixo editorial do qual Narloch é um representante emblemático. Mas nem isso me surpreende, pois a Folha de São Paulo até pode posar de democrática e plural, mas sua linha editorial faz tempo que não é isso (se é que um dia já o foi). Assim, nesse contexto, Narloch é uma figura menor e certamente será descartado em tempo devido. O problema é a opção editorial da Folha de São Paulo em dar espaço a ele, especialmente porque já se antecipa que 2022 será um ano extremamente acirrado na política brasileira.
Ah, sim, como sou paranaense como Narloch, tenho a dizer para quem não conhece o Paraná que lá temos os extremos ideológicos bem marcados, e ele certamente não é exceção, mas marca de um tipo de pensamento que exista para negar a realidade que nos envolve, que é a de uma sociedade fortemente marcada por uma diferença social abissal que claramente tem raízes na exploração de africanos escravizados. Mas peço para os leitores lembrarem que o Paraná também nos deu na mesma Curitiba, o gênio irreverente de Paulo Leminski. O meu sonho para o futuro intelectual do Paraná é que nós tenhamos mais Leminskis do que Narlochs.