Incêndios florestais no Brasil e na Bolívia: desmatamento ilegal para a instalação de pastagens e cultivo de soja agravam crise climática

pantanal em chamas

Extensão devastadora: mais de 5 mil focos de incêndio já foram contabilizados no Pantanal matogrossense em 2023. Joédson Alves/Agência Brasil/dpa

Por Norbert Suchanek para o JungeWelt

Não é apenas o Pantanal brasileiro que voltou a arder nas últimas semanas. Na vizinha Bolívia, os incêndios florestais também se espalharam de forma tão catastrófica nos últimos dias que o governo boliviano pediu ajuda de todo o mundo para combatê-los.

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), responsável pelo monitoramento florestal por satélite dos biomas florestais brasileiros, já foram contabilizados 5.019 incêndios no Pantanal de janeiro a 21 de novembro deste ano, 355% a mais que no mesmo período do ano passado. Cerca de um milhão de hectares desta zona húmida única do mundo já estavam em chamas.

Já na Bolívia, o INPE contabilizou 40.442 incêndios florestais este ano,  6% a mais que em 2022. Segundo o último relatório do Ministério do Meio Ambiente boliviano, as chamas já destruíram mais de 900 mil hectares de floresta e cerca de dois milhões de hectares de outras áreas. Os departamentos de Santa Cruz, La Paz, Cochabamba e a região amazônica de Beni foram particularmente afetados.

Os incêndios também estão se espalhando inexoravelmente em diversas comunidades indígenas e reservas naturais entre os quais se destacam: o Parque Nacional “Noel Kempff Mercado” de 1,5 milhão de hectares, nas planícies orientais da Bolívia, e o Parque Nacional “Otuquis”, de aproximadamente um milhão de hectares, no Pantanal boliviano, no sudeste do Departamento Santa Cruz; o Parque Nacional “Madidi” com cerca de 1,9 milhão de hectares no noroeste da Bolívia; o Parque Nacional e área indígena protegida “Isiboro Sécure” com 1,2 milhão de hectares entre os departamentos de Beni e Cochabamba; a reserva da biosfera “Pilón Laja” com cerca de 400.000 hectares no sudoeste do país e a reserva natural “San Matías” de 2,9 milhões de hectares a leste de Santa Cruz.

Uma das causas é considerada a agricultura praticada em áreas que foram objeto  de desmatamento ilegal seguido de queimadas, processo esse que  foi realizado aproveitando a seca excepcional deste ano para obter terras para criação de gado ou para o cultivo de soja. O Departamento de Santa Cruz, mais afetado pelos incêndios, é também a principal área produtora de soja na Bolívia.

A Venezuela foi um dos primeiros países a responder ao pedido de ajuda do governo boliviano e enviou 30 bombeiros à reserva natural de Madidi para ajudar a combater um incêndio que ali coorria. Segundo relatos da imprensa, o presidente francês, Emmanuel Macron, também quer enviar um contingente de 100 bombeiros à Bolívia para acabar com os incêndios florestais, especialmente no leste e norte de La Paz e na região de Beni.

No entanto, as comunidades indígenas afetadas, em particular, sentem-se abandonadas pelo governo boliviano  devido às semanas de incêndios. Em nota pública, a Coordenação Nacional de Defesa dos Territórios Indígenas e Áreas Protegidas escreve: “O que nós, o povo do norte de La Paz e da Amazônia, fizemos para que o governo departamental e o governo central da Bolívia nos jogassem no meio deste fogo infernal?

O relator especial das Nações Unidas (ONU) para os direitos humanos e o ambiente, David Boyd, também expressou “profunda preocupação com a situação na Bolívia”  em um comunicado. Os incêndios destruíram florestas e territórios tradicionais dos povos indígenas bolivianos. O governo boliviano deve tomar medidas para apagar os incêndios, prevenir novos incêndios no futuro e respeitar os direitos humanos.


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Este texto escrito originalmente em alemão foi publicado pelo jornal “Junge Welt” [Aqui!].

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