Incidente ambiental em Barcarena: mineradora norueguesa tinha tubulação clandestina para lançamento de efluentes não tratados

Resultado de imagem para vazamento de restos tóxicos de mineração, que contaminou diversas comunidades

O incidente ambiental ocorrido no último dia 18 de Fevereiro causado pela mineradora norueguesa Norsk Hydro [1] em Barcarena (PA) que resultou na liberação de lançamento de efluentes não tratados do processamento industrial da bauxita acaba de ganhar um ingrediente de escândalo [2].

vazamento-barragem-barcarena-v4 (1)

É que depois de negar que um incidente ambiental havia ocorrido, a Norsk Hydro acaba de ser confirmar que vinha utilizando uma tubulação clandestina para jogar material tóxico em um conjunto de nascentes do rio Muripi que atravessa o município. Isso é o que informa a rede BBC em uma longa reportagem [3] (ver imagem abaixo).

duto clandestino

O curioso é que a  Norsk Hydro tem como acionista majoritário e controlador o governo da Noruega, o que revela um duplo padrão utilizado pelo país nórdico no manejo de contaminantes no ambiente.  É que dificilmente a Norsk Hydro utilizaria esse procedimento na Noruega, já que lá a legislação ambiental é bastante restritiva. Aliás, basta visitar a página oficial da empresa na internet para ver que, pelo menos na Noruega, a cartilha seguida (ao menos em discurso) de padrões estritos de governança corporativa.

Pelo jeito, o que é bom para os noruegueses não é necessariamente repassado para as operações de suas empresas nos países da periferia capitalista, como é o que caso do Brasil. Assim, enquanto na Noruega todos os cuidados são tomados para evitar que as atividades industriais comprometem os ecossistemas naturais e a população norueguesa, por aqui o que vale mesmo é a lei da fronteira, onde quem pode mais fica com toda a riqueza, deixando nos locais explorados apenas um rastro de destruição ambiental e pobreza.

Mas o péssimo exemplo dado pelo estado brasileiro que até hoje não tomou medidas efetivas para punir financeiramente a Mineradora Samarco (Vale+ BHP Billinton) pelo mega acidente ambiental ocorrido em Mariana (MG) está, como previsto, incentivando a que outras mineradoras ajam de forma displicente no cuidado com o ambiente e com as populações que vivem nas proximidades de suas operações.

De toda forma, mais esse incidente ambiental envolvendo uma mineradora deve servir de alerta para que as operações do setor sejam acompanhadas com “olhos de lince”. É que ficou mais uma vez óbvio que não há nenhuma disposição para adotar padrões mínimos de segurança e “compliance“. 


[1] https://www.hydro.com/en/about-hydro/

[2] https://g1.globo.com/pa/para/noticia/moradores-ficam-assustados-com-possivel-vazamento-de-dejetos-de-mineradora-em-barcarena.ghtml

[3] http://www.bbc.com/portuguese/brasil-43162472?ocid=socialflow_facebook

Relembrando as lições não aprendidas do TsuLama: a hora exata em que o reservatório rompeu

Como estou preprando uma apresentação para um seminário que ocorrerá no campus de Guarus do Instituto Federal Fluminense, estava procurando mais informações sobre o objeto do mesmo, o TsuLama da Samarco (Vale + BHP Billiton) e acabei me deparando com as impressionantes imagens do momento em que o reservatório de Fundão rompeu que são mostradas no vídeo abaixo.

E é lamentável observar que praticamente dois anos depois da erupção do TsuLama, as mineradoras envolvidas continuam objetivamente impunes em relação ao grosso dos danos sociais, econômicos e ambientais que a sua avareza corporativa causou.

Mas como desgraça pouca é bobagem, o parlamento brasileiro está preparando regressões formidáveis no pouco que existe de proteção ambiental no Brasil. Deve ser algum tipo de disposição macabra de ver repetidas as cenas de desespero e pasmo que são mostradas neste vídeo. Só poder ser!

MP/MG dá parecer favorável para Prefeitura em processo de disputa com a Samarco Mineradora

Passados quase 16 meses desde a ocorrência do TsuLama causado pela Mineradora Samarco (Vale + BHP Billiton) em Mariana (MG),  as notícias sobre as contínuas disputas que estão ocorrendo entre as mineradoras responsáveis pelo maior incidente da mineração mundial e as populações que foram afetadas pelos efeitos destrutivos do episódio praticamente desapareceram dos veículos da mídia corporativa.

Entretanto, isso não significa que não haja resistência e enfrentamento, como é bem expresso pela matéria abaixo publicado pela Prefeitura Municipal de Santa Bárbara que fica localizada em torno de 64 km ao norte de Mariana.  

O motivo da disputa entre a Samarco (Vale + BHP Billiton) e a Prefeitura de Santa Bárbara envolve o acesso e uso de um corpo hídrico dentro dos limites municipais. Corretamente a Prefeitura exige a realização de um estudo técnico que avalie os impactos decorrentes desta utilização, enquanto que a Mineradora Samarco postula que se utilize uma autorização concedida antes da ocorrência do TsuLama.

Felizmente, o Ministério Público de Minas Gerais acaba de emitir um parecer contrário ao que a Samarco (Vale + BHP Billiton) está postulando e em favor do pleito da Prefeitura de Santa Bárbara, como mostra a nota abaixo que foi publicado no seu site oficial . 

Ministério Público dá parecer favorável à Prefeitura de Santa Bárbara

Por Comunicação

Ponto de captação - Samarco

O documento ressalta que uma declaração de conformidade à Samarco não é um documento a ser concedido sem qualquer critério. O Ministério alega falta de interesse processual da Mineradora

O Ministério Público de Minas Gerais, por meio da Promotora de justiça da Comarca e da Promotoria Especializada de Meio-ambiente do Estado, manifestaram parecer favorável à tese do Município, em não conceder carta de conformidade, desrespeitando os procedimentos legais locais. O documento foi entregue hoje (27) à juíza de Santa Bárbara, Ana Paula Lobo Pereira de Freitas.

No documento, o Ministério Público destaca que é imprescindível uma análise com base na lei, visto que, a declaração de conformidade não é um documento meramente formal, passível de ser concedido sem critério pelo município, uma vez que o mesmo é impactado ambientalmente com a captação, realizada em um ponto do Rio Santa Bárbara, no distrito de Brumal.

Em 2013, a Prefeitura discutiu com a Samarco apenas a concessão de alvará, uma vez que a carta de conformidade ainda era vigente. Não houve, na ocasião, emissão de carta de conformidade. Se isto já tivesse sido feito, a Samarco não necessitaria de outro documento ‘igual’ nesse momento. Documento, este, anulado pelo Governo do Estado em 2015, após a maior tragédia ambiental do país na cidade de Mariana.

Em 2009, na gestão anterior à do prefeito Leris Felisberto Braga, a carta de conformidade foi emitida sem estudo prévio, o que resultou em Ação de Improbidade Administrativa e Ação Penal propostas pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais (Processos n.º 0572.14.001376-2 e 0572.14.0001375-4 da Comarca de Santa Bárbara).

O Ministério Público entendeu que, ao contrário do que foi alegado pela mineradora, o Município acertou ao se opor à ideia de que a conformidade do empreendimento levaria em conta somente o termo de compromisso firmado em 2013.

“As circunstâncias passadas eram completamente diversas do presente. Além disso, a análise municipal, fundamentada nas leis e regulamentos vigentes, não tem a pretensão de substituir o licenciamento ambiental estadual, como pressupõe a Samarco Mineração S.A”, destaca um trecho do manifesto do Ministério Público.

Neste contexto, levando em consideração que o retorno das atividades da empresa poderá ocorrer tão logo sejam atendidas as exigências legais, o Ministério Público indica, diante da falta de interesse processual da Mineradora, o arquivamento do processo.

Para acessar o Manifesto do Ministério Público, clique neste link: http://migre.me/wkcS3.

FONTE: http://www.santabarbara.mg.gov.br/detalhe-da-materia/info/ministerio-publico-da-parecer-favoravel-a-prefeitura-de-santa-barbara/48215

TsuLama: cada dia uma novidade (ruim)

mariana-setimamateria-bentorodrigues-nilmarlage-tp

Após mais de 10 meses desde a sua ocorrência, o TsuLama causado pela Mineradora Samarco (Vale + BHP Billiton) ainda é capaz de trazer novidades ruins para quem ainda acompanha o maior incidente ambiental da mineração em nível mundial nos últimos 300 anos.

Em matéria assinada pelos jornalistas Estêvão Bertoni e José Marques e publicada pelo jornal Folha de São Paulo ficamos sabendo que a barragem do Fundão, de onde se originou o TsuLama, teve suas operações iniciadas quando a mesma ainda não estava pronta e faltavam itens essenciais para sua operação (Aqui!).

tsulama

A matéria informa ainda que já no início de suas operações, a barragem da Mineradora Samarco (Vale+ BHP Billiton) possuía problemas críticos no seu sistema de drenagem, fator que acabou sendo de importância capital na ocorrência do TsuLama em 05 de Novembro de 2015, quase 7 anos depois que Fundão começou a ser operada.

Há que ressaltar aqui que a fiscalização da construção e operação da barragem de Fundão atravessou uma gestão de Aécio Neves, duas de Antonio Anastasia e desembocou na de Fernando Pimentel. Em todo esse tempo, há que se perguntar o que faziam os gestores da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e os técnicos do DNPM . Certamente nada muito apurado em termos de fiscalização, já que se permitiu que não apenas a barragem de Fundão pudesse operar aquém dos critérios técnicos estabelecidos, mas também que a Mineradora Samarco pudesse extrapolar o volume previsto de rejeitos que seriam depositados numa barragem que já não era segura desde o início de sua operação.

O mais impressionante é que beirando completar o primeiro ano de sua ocorrência, o TsuLama da Mineradora Samarco (Vale+ BHP Billiton) permanece objetivamente impune e sem que as medidas básicas para mitigar os seus efeitos sociais e ambientais tenham sido executadas.

Em seu conjunto, esse caso é exemplar de como a omissão do Estado e o descompromisso sóci0-ambiental das mineradores se combinam para gerar destruição em grande escala.  E o pior é que no âmbito do congresso nacional estão sendo tramadas medidas para enfraquecer ainda mais o processo de licenciamento ambiental e o Código de Mineração. Aparentemente um TsuLama só não foi suficiente.

Tsulama da Samarco: muito mais de que um desastre anunciado

samarco 3

No dia 31 de Agosto postei um comentário sobre a divulgação de um relatório preparado por um painel de especialistas contratados pelas mineradoras envolvidas no incidente ambiental causado pelo TsuLama da Mineradora Samarco (Aqui!).  Pois bem, neste domingo (04/09) a Folha de São Paulo publiquei um artigo assinado pelo repórter especial Marcelo Leite onde ele também nos apresenta a sua análise dos resultados do referido relatório (Aqui!).

samarco desastre

Dentre os aspectos destacados por Marcelo Leite um que me chamou a atenção foi o fato de que o rompimento que ocorreu no dia 5 de Novembro de 2015 foi precedido de 13 “incidentes” na barragem de Fundão entre Julho de 2010 e Julho de 2015. Em outras palavras, todos esses incidentes deveriam ter ligado uma luz de alerta bem vermelha nos escritórios da Mineradora Samarco e de suas proprietárias, a Vale e a BHP Billiton. Mas em vez disso, o que de fato ocorreu foi aplicação tácita da política de tocar a canoa até ver onde ia dar. E o resultado disso todos nós agora sabemos.

Marcelo Leite também dá uma pincelada sobre o papel que painel de especialistas deu ao tal abalo sísmico que ocorreu no dia em que o TsuLama se deu, comprando a ideia de que o evento atuou como um gatilho para algo que iria ocorrer de forma inevitável em face do uso descuidado da barragem de Fundão. Segundo Marcelo Leite, estaríamos então diante de um desastre anunciado.

É nesse quesito do “desastre anunciado” em que eu divirjo da análise que este artigo traz. Na verdade os eventos que ocorreram em Mariana no dia 05 de Novembro não tiveram nada a ver com um desastre. O que se consumou naquele dia foi uma combinação de irresponsabilidade corporativa combinada com a absoluta certeza de impunidade. Qualquer definição que omita essas duas variáveis é complacente com os atos e fatos perpretrados pelas mineradoras até aquele dia e depois dele.

Não podemos esquecer que até este momento, a Mineradora Samarco (e por consequência proprietária a Vale e a BHP Billiton) continua se omitindo de suas responsabilidades sociais e ambientais. E, pior, sob os olhos complacentes de governos e autoridades. Enquanto isso, o relógio continuava correndo e a próxima estação chuvosa se aproxima trazendo perigos incalculáveis para os ecossistemas e cidades que continuam sob o espectro da lama que ainda poderá escapar dos lugares onde se encontra bloqueada.

Atingidos pela Samarco no Vale do Aço sofrem com descaso da empresa

Doenças, morte de animais e a lentidão para recebimento de direitos são denunciadas durante Mutirão de Trabalho de Base

areia

Areeiros sem nenhuma proteção retiram areia do Rio Doce

Após nove meses do crime em Mariana, cidades atingidas pela Samarco no Vale do Aço mineiro estão sofrendo com a contaminação do Rio Doce. Em algumas cidades a população está consumindo a água com metais pesados. As denúncias não cessam. São várias as doenças de pele que surgem nas pessoas em contato com a água e animais que estão morrendo por estarem consumindo o recurso hídrico.

Atingidos do distrito de Cachoeira Escura, na cidade de Belo Oriente (MG), continuam dragando a água do Rio Doce para retirar areia, sem nenhuma instrução da empresa ou equipamentos de proteção. Como se não bastasse, pedreiros de cidades vizinhas, que usam dessa areia para trabalho, apresentam manchas e feridas na pele.

Na cidade de Naque (MG), muitos pescadores não foram sequer reconhecidos como atingidos pela Samarco. A empresa proibiu a pesca no rio Santo Antônio, afluente do Rio Doce, e não apresentou medidas paliativas para os atingidos. A proibição seria para a recuperação do rio contaminado com a lama tóxica.

Alergias, coceiras e dores estomacais são comuns depois do contato com a água do Rio Doce

Na zona rural de Naque, animais morreram ou ficaram doentes depois de beberem a água do rio. Antes do Rio Doce ficar impróprio para consumo, criações de porcos, gado e galinhas se alimentavam soltos. Hoje, ficam presos e o gasto com compra de ração aumentou. Os pequenos produtores andam quilômetros para buscar água em um brejo para dar aos animais.

Animais estão doentes e morrem depois de beberem água do Rio Doce

“Não estão nos deixando pescar, não nos dão o cartão com o salário. Nossos animais já estão passando fome, daqui uns dias somos nós”, disse Murilo Silva, atingido que até hoje não recebeu nenhuma “visita” da Samarco.

Atingido perdeu posto de trabalho. 

Em São Lourenço, distrito de Bugre (MG), a maioria das famílias é ribeirinhas, quase todos pescavam e/ou plantavam, seja para comercialização, seja para consumo próprio. Muitos perderam animais que ingeriram água do rio ou se alimentaram dos peixes mortos, que na época do rompimento da barragem, se amontoavam na beira do rio. Outro problema apresentado pelos moradores é que a água que eles consomem é retirada de um poço muito próximo ao rio e não recebe nenhum tipo de tratamento. Eles temem que ele também possa ter sido contaminado.

A Samarco, porém, não reconhece os moradores de São Lourenço como atingidos, menos de dez pessoas da localidade recebem a verba de manutenção. Em reunião realizada pela empresa a mesma se recusou até em fazer a análise da água do poço e ainda faltou com o respeito com os presentes.

Os moradores de São Lourenço também utilizavam o rio como lazer, alternativa de água quando faltava e também para transporte. É que o distrito se encontra muito próximo à Cachoeira Escura, basta atravessar o rio de balsa. Inclusive, a maioria das pessoas estuda e trabalha do outro lado do rio. Porém, com a chegada da lama, a balsa ficou dias parada, causando prejuízo para muitos trabalhadores e estudantes. No dia 11 de agosto a balsa parou novamente: encalhou devido o baixíssimo nível de água no rio Doce.

Homens tentam desatolar balsa no rio

Estas denúncias foram feitas durante o Mutirão de Trabalho de Base que o Movimento dos Atingidos por Barragens realiza em toda a extensão da bacia do Rio Doce. “Eu vim do Paraná ver com meus próprios olhos o resultado do crime da Samarco, pois a mídia não mostra. O que aparece é o problema resolvido. Fiquei surpreendido com a real situação. Estas cidades estão a quilômetros da barragem. São muitas pessoas  sofrendo as consequências da negligência da empresa”, afirma Marcelo militante do Movimento dos Atingidos por Barragens do Paraná. 

FONTE: http://www.mabnacional.org.br/noticia/atingidos-pela-samarco-no-vale-do-sofrem-com-descaso-da-empresa

Convite para participação em pesquisa sobre o impacto do TsuLama na imagem da Mineradora Samarco

Uma estudante do curso de graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Ouro Preto está realizando o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), escolheu como do mesmo realizar uma análise da imagem corporativa da Mineradora Samarco (Vale + BHP Billiton) após o rompimento da Barragem Fundão em Mariana (MG).

Em função disso, ela entrou em contato comigo para solicitar que eu respondesse a um questionário postado online (coisa que já fiz), e também solicitou que eu divulgasse a pesquisa para que ampliar o número de respondentes.

Como considero que essa é uma pesquisa bastante relevante e de grande interesse público, convido aos leitores deste blog a que colaborem com a pesquisa. Quem tiver interesse, basta clicar  (Aqui!)

FalaMansa e Gabriel o Pensador lançam “Cacimba de Mágoa”, uma canção de protesto contra o TsuLama da Samarco

samarco

O grupo musical Falamansa se uniu ao rapper Gabriel O Pensador e, em parceria com o instituto Ultimos Refugios e o Instituto O Canal, lançaram uma música para manter aceso o debate acerca dos efeitos socioambientais do TsuLama da Mineradora Samarco (Vale+ BHP Billiton).

Esse é o tipo de ação que manterá vivo um debate que a mídia corporativa, as mineradoras e os governos querem enterrar debaixo de um espesso tapete de lama.

 

As vítimas do ecocídio do Rio Doce estão abandonadas e precisam ter seus direitos garantidos

MORADORES OBSERVAM ESTRAGOS EM BENTO RODRIGUES

MG – BARRAGEM/MG/BENTO RODRIGUES/ONTEM – GERAL – Moradores observavam os estragos causados na região de Bento Rodrigues, distrito de Mariana (MG), atingido pelos rejeitos que vazaram das barragens da empresa Samarco, na tarde da última quinta-feira (05), em foto deste sábado (07). 07/11/2015 – Foto: MARIANA TOPFSTEDT/SIGMAPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Por Mariana Parra, Doutoranda em Direitos Humanos pela Universidade de Deusto, na Espanha

 

Quase dois meses depois da catástrofe ambiental no Rio Doce, do crime ambiental cometido pelas empresas Vale e BHP, e com a responsabilidade do poder público brasileiro por não ter cumprido seu papel fiscalizador, muitas vítimas de Mariana continuam sem saber o que será de suas vidas, sentem-se sozinhas e esquecidas pelo resto do País.

Uma postagem da organização Últimos Refúgios trouxe uma atualização importante e preocupante sobre a situação na região. O relato e as fotos ajudam a termos alguma dimensão de uma situação difícil até mesmo de compreender, tamanha destruição.

Além da falta de água e do enorme risco de contaminação e proliferação de doenças, além dos milhares de desabrigados que ainda não têm uma solução definitiva, milhares de pessoas perderam sua fonte de renda, seu meio de vida, de forma direta ou indireta.

Pescadores, artesãos que fabricavam ferramentas para pesca, produtores rurais, indígenas, professores… Essas pessoas ficarão abandonadas à própria sorte?

Será mesmo que a presidenta da República acredita que liberar o fundo de garantia será suficiente para remediar a situação em que se encontram essas famílias e comunidades?

Como já foi bastante comentado, parece que poucos se deram conta da gravidade da catástrofe ambiental que está matando o Rio Doce e causando um enorme dano à vida marinha.

Uma consultoria americana de gestão de riscos relativos à construção pesada estimou que essa catástrofe bateu três recordes mundiais. Foi o pior desastre do gênero e o maior vazamento de lama já registrado. Outros especialistas já afirmaram que essa catástrofe pode se comparar à Fukushima.

No caso de Fukushima, milhares de pessoas tiveram que deixar suas casas por conta da radiação. No caso do Rio Doce, até quando as vítimas receberão abastecimento de água engarrafada e terão uma solução para seguir suas vidas postergada por medidas paliativas?

As vítimas do Rio Doce devem ser reconhecidas pelo que são: deslocadas internas, pessoas que tiveram e terão que deixar suas casas pela simples impossibilidade de viverem em suas terras e com os meios de subsistência que tinham antes.

Devem ter garantidos seus direitos de receberem abrigo e meios para recomeçarem suas vidas, seu direito a um meio ambiente saudável, à água, à saúde, educação, moradia e renda.

Obviamente, há perdas irreparáveis para essas pessoas e comunidades, dos seus modos de vida e cultura, que tinham relação com sua terra, seu entorno, sua paisagem.

E o restante da natureza, dos seres vivos? Infelizmente não existe remediação e reparação para o assassinato do Rio Doce, para esse verdadeiro ecocídio.

Nessa situação tão triste e desesperadora, a declaração da presidenta da República, de que o rio será recuperado “inclusive tornando-o melhor do que era antes”, passa de qualquer limite do absurdo e até mesmo da crueldade, impossível de aceitar.

E o que a presidenta demonstra não é apenas a sua falta de articulação para falar em público e ao público, mas também um discurso muito típico da cultura atualmente dominante, em que temos a ilusão extremamente imatura de que o ser humano pode controlar e manipular a natureza ao seu bel prazer.

Esse pensamento que está trazendo consequências cada vez mais irreversíveis na atual era do Antropoceno.

As vítimas do ecocídio do Rio Doce não podem ser esquecidas em meio ao mar de calamidades e escândalos que tomam conta do País e devem ter sua situação e seus direitos reconhecidos, sem rodeios e meias palavras.

À natureza e aos seres vivos que morreram e morrerão nesse ecocídio, podemos apenas ter essa situação como aprendizado e como alerta para esse modelo de desenvolvimento que destrói a natureza, a vida e a nós mesmos.

Podemos lutar contra todas as manipulações e ilusões dessa sociedade do consumismo e da descartabilidade. Como foi comentado durante a COP de Paris, não temos outro planeta para jogar este fora.

FONTE: http://www.brasilpost.com.br/mariana-parra/as-vitimas-do-ecocidio-do_b_8891768.html?ncid=tweetlnkbrhpmg00000002

Matéria do Estado de Minas coloca em xeque discurso de responsabilidade social da Mineradora Samarco

Famílias e empresas de municípios banhados pelo Rio Doce lamentam abandono pela Samarco

Indiretamente atingidas pela tragédia em Mariana, pessoas e empresas que tiveram perdas com o rompimento da Barragem do Fundão alegam que foram esquecidas pela Samarco, que ainda não atendeu seus pedidos

Por Pedro Ferreira , Paula Carolina /Estado de Minas

samarco 0

Famílias e empresas de municípios ao longo do Rio Doce em Minas Gerais e no Espírito Santo, que tiveram suas vidas prejudicadas pelo rompimento da Barragem do Fundão, reclamam que não estão recebendo a mesma atenção dada pela Samarco às vítimas dos subdistritos de Mariana, na Região Central do estado, onde a barragem de rejeitos de minério estourou em 5 de novembro. Segundo essas pessoas, passados 37 dias da tragédia elas não receberam nenhum tipo de ajuda financeira da mineradora. Em Galileia, Vale do Rio Doce, muitos pescadores estão de braços cruzados, pois todos os peixes morreram e o rio continua cheio de lama.

Para complicar ainda mais a situação, a Secretaria Municipal de Saúde de Galileia denuncia que a água distribuída pela Samarco está contaminada com coliformes fecais, totais e escherichia coli, que causa diarreia e vômito na população. A análise da água foi feita pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Segundo a secretária de saúde, Meirimarcia Gonçalves Santos, 92 moradores da cidade adoeceram depois que passaram a usar a água fornecida pela mineradora, número considerado elevado para um universo de 7 mil habitantes. Antes, era um caso isolado de diarreia por mês, segundo ela. “Temos um surto da doença”, alerta Mairimarcia.

A secretária explica que água potável é aquela apropriada para o consumo humano. “A água distribuída, de acordo com ela, é captada em Governador Valadares, Ipatinga e Conselheiro Pena. “As análises feitas em diversas amostras comprovam que a água está contaminada.”

Quem depende do rio para sobreviver, como os pescadores, ainda não recebeu nenhum tipo de ajuda financeira da Samarco, segundo a secretária. “A mineradora mandou uma empresa fazer um levantamento de quem realmente foi atingido, mas até hoje ninguém recebeu qualquer quantia da Samarco”, afirmou. Ela acrescentou que foi feito um levantamento da população ribeirinha no município e muitos produtores rurais perderam todo o sistema de irrigação em plantações e pastos. “A gente solicitou da Samarco o ressarcimento do dinheiro perdido e também que ela contribuísse financeiramente com essas vítimas. Temos fazendas com muitas cabeças de gado que só tinham a água do Rio Doce para beber. Nesses casos, a mineradora está mandando caminhões-pipa”, disse.

Na reserva indígena krenak , em Resplendor, também no Vale do Rio Doce, não há mais peixes, segundo o cacique Adalto Krenak. “A única ajuda que temos é de caminhão-pipa trazendo água. Não recebemos nenhum dinheiro. A situação está muito difícil. A gente gosta muito de pescar, caçar, mas isso tudo já era. Estamos na luta pela água agora, mas depois vamos correr atrás de outras coisas, pedir projetos para criação de peixes”, disse o cacique.

PERTO DA TRAGÉDIA

 Também há pessoas e empresas nos arredores de Mariana que também não tiveram suas perdas reconhecidas pela mineradora Samarco, situação que levou a comarca de Mariana, do Ministério Público de Minas Gerais, a ingressar com nova ação, anteontem, contra a empresa, pleiteando ajuda exatamente para quem foi indiretamente atingido pela tragédia. Segundo o promotor Guilherme Meneghim, um levantamento em toda a região ainda está para ser concluído, mas a estimativa é de que cerca de 1 mil pessoas possam ser contempladas nesse pleito.

Ele cita, como caso mais emblemático, uma cooperativa de produtores de leite do distrito de Águas Claras. “Esses produtores dependiam dos produtores de leite de Paracatu, uam das comunidades afetadas. E como lá a produção foi interrompida, a produção de leite, como um todo, reduziu muito. E sozinhos eles não conseguem lucro suficiente para suplantar os prejuízos”, explica o promotor.

Mas, segundo o Meneghim, a Samarco entendeu que esse seria um conceito muito amplo de se determinar os atingidos, o que não permitiu a assinatura de um termo de compromisso com o MP, motivando a ação.

RESPOSTA

A Samarco informou que começou quinta-feira a distribuição dos primeiros 120 cartões de débito aos pescadores e ribeirinhos cuja subsistência foi impactada pelo acidente em Mariana. “Este é o primeiro passo de um programa de atenção social aos pescadores e ribeirinhos, que a mineradora está executando em parceria com o Ministério Público Federal e Ministério Público do Trabalho, com quem a empresa assinou um Termo de Compromisso Social e Ambiental”, disse a Samarco em nota.

A mineradora anunciou a contrataçaõ da empresa Golder Associates Brasil Consultoria e Projetos para fazer a avaliação socioeconômica dos municípios e grupos sociais afetados e, posteriormente, vai apresentar um plano de mitigação de impactos e compensação social. Esse estudo ainda está em andamento, segundo a mineradora.

O subsídio é uma medida emergencial e contempla o pagamento mensal de um salário mínimo, mais um adicional de 20% do salário mínimo para cada um dos dependentes e o valor referente a uma cesta básica (R$ 338,61)”, informou a Samarco.  A mineradora também divulgou que famílias atingidas em Barra Longa e distritos começaram a receber ontem cartões de auxílio financeiro. Foram entregues cartões de auxílio financeiro a 50 famílias da sede e distritos do município que perderam sua fonte de renda com o acidente da barragem, segundo a nota. “A entrega continuará sendo feita à medida em que os demais cadastros forem validados, até que todos os núcleos familiares elegíveis sejam atendidos”, informou.