Na imagem acima dois momentos em que Jair Bolsonaro presta continência a símbolos estadunidenses, indicando de forma clara suas intenções de alinhamento político aos EUA que, por sua vez, trará a subordinação econômica aos interesses das corporações estadunidenses.
Apesar das muitas análises que vejo no sentido de tentar explicar a vitória de Jair Bolsonaro e as propostas objetivas de recolonização do Brasil que o seu governo buscará implenetar, creio que a maioria dos analistas continua preso a uma aproximação rasa da realidade. E isso não se dá por falta de instrumentos teóricos para oferecer uma reflexão mais aprofundada que explica a opção aparentemente suicida das elites brasileiras por um governo que abertamente flerta com a destruição do que resta da economia nacional.
Penso que não é nem necessário ir muito longe em termos de teoria para encontrar algumas pistas pela opção feita pelos ultrarricos brasileiros. Apesar de já ter lido há algum tempo o livro “O Mito do Desenvolvimento Econômico” que Celso Furtado publicou no exílio no ano de 1974 [1], lembro de uma passagem onde está dito que no modelo de desenvolvimento adotado no Brasil, o padrão consumo das elites locais tenderá a imitar a praticada pelas das suas congêneres nos países do capitalismo central. Isto, por sua vez, decorre de uma opção de instaurar a modernização da economia sem que haja qualquer intenção de se romper com os padrões existentes de concentração da riqueza.
Esta elaboração de Celso Furtado me parece perfeita para explicar a opção reacionária da quase totalidade dos ultrarricos por um governo que buscará erradicar as poucas formas de distribuição de renda, que nem chegaram perto de descontrar a riqueza nacional, e recolocar o Brasil na condição de uma colônia provedora de commodities agrícolas e minerais. É que nesse modelo não haverá espaço para indústria nacional ou, sequer, indústria. Mas apesar de saberem disso, organizações patronais como a FIESP e a FIERJ se alinharam de forma entusiasmada às propostas de Jair Bolsonaro e seu “Posto Ipiringa”, o economista Paulo Guedes que sinaliza com um ataque virulento ao chamado Sistema “S” de onde a elite industrial tira muitas vantagens.
A explicação para esta adesão aparentemente suicida das elites nacionais, pois o ataque aos pouco de mecanismos de distribuição de renda via políticas sociais deverá destruir a frágil base de consumo de massas existente no Brasil, só se explica pela certeza de que não se modificará o sistema de parasistimo rentista do qual as elites retiram mais riqueza do que se estivessem investindo em atividades produtivas. As elites apostam nessa manutenção para mover seu capital ainda mais para a especulação, e pouco se importam com o destino trágico que espera milhões de brasileiros pobres que não possuem os mesmos canais de escape ao ajuste ultraneoliberal que se avizinha.
O problema que até aqui todos parecem preferir ignorar são os sinais de que a economia global está próxima de um novo e mais profundo surto de crise estrutural, justamente pelo sobrepeso representado pela especulação financeira. E que se note que esta ignorância das elites nacionais não se dá por falta de sinais claros vindos das bolsas mundiais, a começar por Wall Street, mas por uma decisão férrea de seguir apoiando um processo de recolonização da economia brasileira. É por isto que por ter feito esta opção por uma completa subordinação aos interesses do rentismo financeiro global, as elites se comportam como o capitão do Titanic depois que o navio foi atingido pelo iceberg e se comportam como a música não pudesse parar.
Nesse processo, a opção das elites por Bolsonaro e por um comportamento esquizóide de ignorar os alarmes que estão soando talvez resida a melhor oportunidade da classe trabalhadora brasileira de se restabelecer como o elemento dinâmico da realidade nacional. É que não restará outro caminho para a sobrevivência de padrões mínimos de dignidade que o de combater de forma prática uma opção que só irá beneficiar as elites.
Quem desejar baixar o arquivo contendo o “Mito do Desenvolvimento Econômico” de Celso Furtado, basta clicar[Aqui!]