166 agrotóxicos já aprovados em 2019. E segue firme a marcha do veneno do governo Bolsonaro

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Aplicação de agrotóxicos.

Em meio a muitas outras notícias turbulentas na situação brasileira, passou despercebida a aprovação de mais 14 agrotóxicos pelo governo Bolsonaro por meio do Ato 27 que foi publicado no dia 17 de Abril de 2019, perfazendo um total de 166 agrotóxicos liberados para comercialização apenas nos primeiros 4 meses do corrente ano, um verdadeiro recorde de aprovações.

Tendo atualizado a base de dados que criei para acompanhar a marcha do veneno do governo Bolsonaro, pude confirmar algumas tendências que já estava claras desde a primeira série de aprovações, e que desmentem o discurso oficial em várias esferas no que tange as interligações existentes entre o comércio de agrotóxicos e a expansão de áreas cultivas unicamente com monoculturas voltadas para a exportação.

A primeira é que não nada de minimizador ocorrendo em termos do nível de toxicidade das substâncias aprovadas, sendo que no tocante à saúde humana, 43% das substâncias aprovadas estão nas categorias mais perigosas,  I e II, e velhos venenos conhecidos estão na lista dos contemplados (a começar pelo Acefato e pela Atrazina, ambos banidos na União Europeia) (ver gráfico abaixo).

toxicidade

Ainda no tocante ao elemento da toxicidade, analisei também a situação dos 166 agrotóxicos aprovados em relação à União Europeia e verifiquei que pelo menos 26% deles estão listados como proibidos (o que decorre da não aprovação em primeira instância ou do banimento posterior para aqueles que foram aprovados e depois tiveram comprovadas seus danos sobre saúde humana e meio ambiente) (ver figura abaixo).

EU status

O fato do Brasil estar concentrando produtos que foram banidos pela União Européia já foi verificado anteriormente pela professora Larissa Miers Bombardi do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo. Os resultados das pesquisas da professora Bombardi foram sintetizados na obra “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia“.  Entretanto, o que os dados relativos aos 166 agrotóxicos aprovados em 2019 mostram é que as tendências verificadas anteriormente pode não apenas estar sendo mantidas, mas também aprofundadas, tornando o mercado brasileiro uma espécie de banheira preferencial para onde são despejados agrotóxicos  indesejados na União Europeia.

Outra tendência que vejo confirmada a partir dos agrotóxicos autorizados pelo Ato 27 é a extrema dependência do Brasil em relação à China no tocante à produção de agrotóxicos para manter sua agricultura voltada para a exportação.  Nesse quesito, apesar o Brasil importar produtos técnicos que serão utilizados nas diferentes formulações que chegam ao mercado  de diversos países, no caso dos 166 agrotóxicos aprovados em 2019, 63,4% dos fabricantes primários (e em diversos casos do único fabricante) são empresas chinesas (ver figura abaixo).

fabricante primário

Um detalhe ainda mais curioso, é que 98% dos proibidos na União Europeia chegam no Brasil por meio de empresas chinesas. Este dado revela que a China não apenas é a principal fonte de agrotóxicos vendidos, mas, e especialmente, daqueles que foram banidos em outras regiões do planeta, a começar pela União Europeia. 

Por essas e outras é que aparentemente cessaram todas as manifestações belicosas contra a China que marcaram os primeiros momentos do governo Bolsonaro. É que alguém deve alertado quem atacava os laços comerciais com a China, a começar pelo ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, visto que dependemos dos chineses não apenas para assimilar a produção de várias commodities agrícolas, mas também para a compra de agrotóxicos, muitos deles, friso eu, banidos em outras partes do mundo por causa dos fortes impactos sobre a saúde humana e o meio ambiente.

Interessante lembrar o caso do Paraquat  que tem 85% de sua produção baseada na China, tornando os latifundiários brasileiros diretamente dependentes dos chineses para comprarem esse produto.  O problema é que no caso do Paraquat , o produto já foi proibido para uso na China em 2016 e os chineses irão cessar sua produção para consumo externo em 2020. Enquanto isso no Brasil, a Anvisa só deverá banir o Paraquat, isso se os ruralistas permitirem, coincidentemente em 2020.

Como ainda existem mais de 200 agrotóxicos esperando na fila para aprovação, o mais provável é que brevemente eu tenha de atualizar a minha base de dados. Entretanto, acredito que as tendências aqui observadas não apenas serão mantidas, como possuem fortes possibilidades de serem aprofundadas. Em outras palavras, mais venenos agrícolas altamente tóxicos, muitos deles banidos em outras partes do mundo, inclusive na China que os produz para os ruralistas brasileiros consumirem.  E depois que ninguém se surpreenda se aumentar a contaminação na água que chega nas nossas torneiras e na comida que alcança a mesa de que ainda consegue comprar.

3 comentários sobre “166 agrotóxicos já aprovados em 2019. E segue firme a marcha do veneno do governo Bolsonaro

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