A assessoria de comunicação da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) noticiou ontem, com pompa e circunstância, um encontro entre o reitor Raul Palácio e Gustavo Cruz, gerente do Porto do Açu, para aludidamente firmar um acordo de pesquisa envolvendo o reuso da lama de dragagem que é continuamente retirada das estruturas do megaempreendimento/enclave construído no município de São João da Barra.
Para o Porto do Açu as imagens de um encontro dentro da Uenf para firmar um acordo em que não se sabe quanto (ou mesmo se algum) dinheiro será colocado pela empresa para financiar as pesquisas é uma oportunidade única de propaganda. Com certeza as imagens do encontro estarão brevemente no Instagram e no Facebook da empresa, pois estar na Uenf confere um nível de legitimidade que nem com muito dinheiro gasto com propaganda será possível de alcançar.
Já no caso dos pesquisadores da Uenf envolvidos nessa “parceria” , o mais provável é que tenham garantido o acesso que é negado frequentemente a quem mostra as múltiplas mazelas sociais e ambientais causadas por um empreendimento cada vez mais voltado para o seu interior. Se só isso justificaria a chancela de legitimidade dada ao Porto do Açu? Obviamente que não, pois é muito pouco. No caso do reitor da Uenf, sempre cioso de abraçar a oportunidade de aparecer em fotografias que escondam sua inoperância, o ganho já está aí.
O problema é que essa acolhida do Porto do Açu irá dificultar outras pesquisas e projetos já em andamento, mas que dependem da acolhida dos moradores do V Distrito, pois a partir dessa visita, a Uenf será vista (e com razão) como uma instituição que está ao lado do porto e contra aqueles que foram e continuam sendo atingidos pela instalação do empreendimento.
Obviamente que quando menciono atingidos, estou fando dos milhares de habitantes do V Distrito de São João da Barra que tiveram suas vidas devastadas pela tomada de terras que ocupavam há várias gerações, e que continuam até hoje sem receber o dinheiro devido pelo estado do Rio de Janeiro. Ao se aliar publicamente ao Porto do Açu, o que reitor da Uenf fez foi jogar água no moinho que esmaga os direitos sociais e econômicos dos que tiveram suas terras tomadas pelo governo estadual, e que hoje servem para que a Prumo Logística Global cobre aluguéis tão salgados quando o material de dragagem que foi objeto da “happy hour” entre o reitor e o gerente do Porto do Açu.
E enquanto isso, os ossos de Darcy Ribeiro devem estar se revirando no túmulo, em um sentimento que mistura vergonha e raiva.
É a lavagem da lama, o detergente é a UENF…
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Prezad@s
Envio este comentário com a seguinte pergunta:
– Em vez de atolar na lama, porque quando se precisava do apoio da Prumo para assuntos tipo animais silvestres/extinção x Porto -Reserva Caruara x Medvet-Núcleo de Estudo e Pesquisa de Animais Silvestres ( NEPAS que atualmente está fechado, o que nos entristece, por conta de falta de recursos) o reitor não se mobilizou com tanta prontidão ? A UENF estaria mais bonita e limpa na foto, não é mesmo? E assim iniciamos o 2023 literalmente na lama !
Saúde e Paz para tod@s.
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Maria Angélica, sua ponderação é bem pertinente. O interessante é que no caso da lama quem está financiando não é a Prumo, mas o CNPq. A Prumo, i.e,., Porto do Açu, está saindo bem na fotografia sem precisa investir nada. Uma beleza, não?
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